02 junho 2012

Memórias de um Sargento de Milícias - Manuel Antônio de Almeida


Título Original: Memórias de um Sargento de Milícias
Gênero: Romance
Autor: Manuel Antônio de Almeida
Editora: Ática
Nota: 5/5 estrelas


A linguagem popular e a vida das camadas pobres e médias são as protagonistas deste romance que faz uma crônica de costumes bem-humorada do Brasil de dom João VI. A ironia e deboche com que Manuel Antônio de Almeida conta as trapalhadas de Leonardo, primeiro malandro da literatura nacional, situam a obra além das características do movimento literário do período em que foi escrita, o romantismo, fazendo deste Memórias de um sargento de milícias uma análise da sociedade brasileira que ecoa até os dias atuais.

                Mais conhecido como “Livro de literatura obrigatória”, Memórias nos traz a história de Leonardo, filho de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça, sendo fruto de uma pisadela e um beliscão.

Tudo começa com Leonardo Pataca que está vindo de Portugal para o Brasil em um navio para ser um Sargento de Milícias e encontra uma moça da qual fica interessado e lhe aplica uma bela pisadela e a moça, nada boba, retribui com um belo beliscão e então aparece grávida com seu filho nascendo sete meses depois deste encontro. Espera. Sete meses? Isso mesmo, logo se descobriu que Leonardo, nosso protagonista não é filho de Leonardo Pataca, mas na história que continuarei a contar ele permanece sendo considerado filho do próprio.  Maria da Hortaliça, nossa moça de santa não tem nada, acaba se juntando com Leonardo pai, mas recebe visitas em casa do comandante do navio da qual vieram, este descobrindo, briga com a mesma e abandona o filho, fazendo com que o barbeiro que é padrinho do menino fique com ele.

                Então se prolonga a história contando sobre as peripécias de Leonardo, menino travesso e malandro que adorava aprontar alguma para com a vizinha. Quando a narrativa passa para uma fase mais “madura” de Leonardo, ele se encanta por Luisinha que é uma menina sem atrativos que mora com Dona Maria, uma amiga de seu padrinho. Mas não é somente o garoto que se encanta por ela, José Manuel que é bem mais velho, também fica encantado com a menina, criando assim uma rixa entre os dois. Comadre, que tem um grande afeto por Leonardo o ajuda a tirar José Manuel da jogada, mas tem sua história revelada pelo pai de reza que a desmente ajudando-o a casar-se com Luisinha.

                Leonardo com seu padrinho tendo falecido, vai morar com seu pai e sua madrasta, com quem não se dá. Um dia, ele e a madrasta brigam e seu pai vai atrás com uma arma, fazendo assim, nosso protagonista fugir de casa. Então o próprio da sorte e se encontra com seu amigo dos tempos de criança quando ajudavam na igreja, que o leva para onde ele mora, junto com seus primos e primas, a qual nos interessa é Vidinha, uma linda mulata que conquista Leonardo com sua voz e seu charme.  Acontece que dois primos são enamorados por ela também, fazendo com que armem uma emboscada contra Leonardo o que acaba fazendo-o ser preso pelo Major Vidigal, porém, o garoto foge do Major fazendo com que o próprio fique uma fera. Mas comadre, que soube do acaso, o arruma um emprego na casa real para não dar mais motivo para o Major o prender, no entanto, malandro que só, Leonardo se engraça com a mulher do Toma-Largura, um dos homens de poder. Vidinha vai buscar satisfação com o Toma-Largura e Leonardo a segue para impedi-la, mas é parado pelo Major. Algum tempo depois o Vidigal planeja a prisão de Teotônio, um animador de festa, e pede para que Leonardo entre na festa de batizado da filha de seu pai e avise quando o homem sair. Não se sentindo bem em ajudar o Major, Leonardo conta para todos o que o Vidigal queria que ele fizesse e planeja um modo de Teotônio sair dessa emboscada. O plano deu certo, mas Leonardo acabou se denunciando, fazendo com que o Major o prendesse sério desta vez. Comadre e D. Maria que reatam a amizade vão atrás de Maria Regalada, um antigo amor do Vidigal, que faz com que o Major o libere e o suba de cargo.

                Pouco tempo depois, José Manuel, que era um péssimo marido, vem a falecer deixando Luisinha viúva. Assim, com o caminho livre Leonardo e a atual viúva – Luisinha – se casam e ele passa a ser um sargento de milícias, assim como Leonardo Pataca que vem a falecer junto com D. Maria, deixando assim, um ponto final na nossa história.

                Em minha opinião, foi um livro envolvente com uma ótima história no auge do romance brasileiro. Tratando-se de um livro com uma abordagem diferente, pois foi publicado em folhetins, cada capítulo traz alguma surpresa ou incidente, tornando a leitura mais prazerosa. Li algumas resenhas que tratam Leonardo como um herói picaresco, o que é errôneo, sendo que um pícaro é uma pessoa que faz a malandragem de propósito, para enganar e como podemos perceber ao longo da prosa, Leonardo fazia a malandragem pela malandragem e não para o mal.

                Podemos analisar também a divisão entre a ordem e a desordem, onde a ordem pode ser exemplificada entre as jovens pela qual Leonardo se apaixonou. Vidinha é o ícone da desordem, uma garota cheia vida, que gosta de se divertir não casar. Já Luisinha é toda sem graça, recatada, obedece a sua tia – D. Maria – no máximo, sendo considerada uma jovem para casar, uma jovem da ordem.

                Com um desfecho de final feliz, nosso anti-herói – pois não era um salvador, e sim um malandro – Leonardo consegue se casar com Luisinha, fechando com chave de ouro o que foi um romance “Zé povinho” mas muito bem construído e provando o porque foi escolhido para ser literatura obrigatória de uma das 100 melhores faculdades do mundo, nossa tão sonhada USP.

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